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A Busca de uma Mulher

O que leva uma mulher a ser combatente , como Dilma Rousseff , e tantas outras que enfrentaram a Ditadura militar , participando da luta armada?

Vou tentar analisar, com propriedade, o perfil de uma mulher, nos anos da ditadura militar (1964 à 1985). Mulheres que em 2010, estão na faixa etária dos 55 à 65 anos.

Recordo de minha infância: das brincadeiras de roda, de pular amarelinha, do chicotinho queimado, do esconde- esconde, do pique- pega, das casinhas de boneca, das bonecas de vinil ( que eram quase de nosso tamanho). As histórias que sempre terminavam com um final feliz nos contos de fada. Os riscos das escolhas erradas, como no Chapeuzinho Vermelho , nos 3 porquinhos com um Lobo mau que era um grande fantasma em nosso inconsciente. Os programas de TV , como o teatrinho Trol alimentavam os nossos sonhos.

Éramos estimuladas à estudar, ler, ser obedientes e levávamos castigos e até muitas palmadas quando saíamos da linha. As meninas deviam se comportar e se entreter com brincadeiras de meninas e meninos brincarem de casinha, nem pensar !

As escolas eram rígidas e exigiam disciplina exemplar. Éramos adestrados nos anos 60.Cantávamos o hino nacional, participávamos dos desfiles da Independência do Brasil, marchávamos nas avenidas dos bairros e no centro da cidade.

Tínhamos um único modelo de calçados escolares, um único comprimento de saias , não podíamos usar brincos, pulseiras e enfeites que fossem impróprios ao ambiente escolar. Literalmente, éramos todos uniformizados e idênticos. Existia ordem!

Recordo que existiam o grupo das mocinhas de família e o das meninas mais fogosas e que os meninos aprendiam a lidar com os dois tipos.

Beatles, Rolling stones, se misturavam à Chico Buarque, Caetano Veloso, e a jovem guarda, com a ternurinha , Roberto e Erasmo Carlos.

A maconha chegou à escola pública, na época de maior rebeldia da juventude. Não creio ter sido coincidência. Os Hippies, iniciaram o movimento "Paz e Amor" se afastando por completo dos movimentos Políticos e direcionaram o sexo livre como uma opção de vida: Roupas extravagantes, unhas descuidadas, calças jeans e cabelos longos e prazer, acima de tudo, desde que a paz e a alienação reinassem em seus mundos.

O grupo dos rebeldes, tramavam brincadeiras para incomodar, desacatar, sem serem descobertos. Todos eram aparentemente obedientes. De certa forma, era divertido, mas perigoso , porque aprendemos a dissimular , comportamento essencial à corrupção dos dias atuais, comuns aos políticos e empresários "sessentões".

Lembro-me de uma música que refletiu o movimento dos "esquerdistas" ou opositores, amantes da História do Brasil: " Era um garoto, que como eu, amava os Beatles e os Rolling Stones... Não vê amigos, nem mais garotas, só gente morta, caida ao chão. Da sua guitarra, se separou, fora mandado pra América: Stop com Rolling Stones, Stop, com Beatles songs "

Uma outra que chegou a ser proibida: " Caminhando e cantando e seguindo a canção, somos todos iguais, braços dados ou não, nas escolas , nas ruas, campos , construções, caminhando e cantando e seguindo a lição: Vem, vamos embora, que esperar não é saber, quem sabe faz a hora , não espera acontecer "

As músicas e suas mensagens , começaram a ser censuradas e tivemos que optar entre o silêncio e o enfrentamento. Passeatas no centro da cidade, bombas de gás, cavalarias, prisões se mesclavam com o grupo que optou pelo romantismo e a alienação.

Eram poucas as meninas que se uniam aos rapazes para entrar nos conflitos, mas existiam as obstinadas que davam a vida pela pátria. A maioria preferia as festas, os namoros, as domingueiras, o carnaval e o "Splish Splash".

No Brasil, as mulheres não entravam e não entram no exército e não têm que se alistar. Bem diferente dos rapazes que são obrigados a se apresentar aos 18 anos de idade. Existe uma diferença muito grande entre um homem que utiliza armas e de uma mulher que utiliza armas. Os homens são treinados para a Guerra.

A pergunta é : O que levou algumas meninas , a se identificarem com os meninos e entrarem com toda a força e coragem , incomum à fisiologia feminina ?

A briga pela derrota da ditadura militar, virou uma questão de honra.

E qual seria o perfil psicológico dessas jovens? Dilma , foi filha de um homem que teve que fugir da Bulgária,deixando a esposa grávida, por alguma razão desconhecida ou ocultada. Afastou-se de sua história, de sua pátria e de suas origens de sua família. Esse pai teria sido uma figura masculina de pouca coragem que abandonou e se adaptou ao sistema capitalista? Teria Dilma, que dar continuidade à imagem de um pai que se sentiu derrotado e se " dobrou" ao sistema, mudando de rumo e de ideologia em busca da riqueza como recompensa?
Dilma, largou a família em busca de uma ideologia, diferente da atitude do pai , ou apenas gostava de desafios? Abriu mão de regalias, riqueza, estudos, para ser presa, punida, humilhada, ferida e quase morta. Ela buscou ,de certa forma, aquilo que procurou. Esqueceu de si mesma, para dar continuidade a um pai "derrotado" ?

O que Dilma buscava quando usava toda a sua força para derrotar o inimigo? E quem era o seu inimigo? O que ela perdeu e o que ganhou com uma vida cheia de riscos? Contra quem ela lutava? Contra a Ditadura ou contra o Poder? Ela lutou contra o Poder pelo Poder?
Hoje,ainda segue obstinada pela vitória, pela conquista, como se estivesse usando as "mesmas armas" que usou para não ser derrotada. Dilma, não aceita perder. Talvez tenha se acostumado com uma vida de fartura e não deu valor a tudo que foi conquistado por um pai maduro que preferiu buscar a paz e a felicidade, sua e de sua nova família. E qual teria sido a busca de Dilma? A mulher que quer mostrar ser capaz de enfrentar todos os desafios para ser a Presidenta de uma Nação, como se num passe de mágica, fosse resolver problemas que se arrastam durante anos.

Ela opta pela continuidade na luta, pela falta de tempo de se dedicar à sua saúde e à sua família buscando algo que não é tão concreto. Que talvez, nem ela mesma consiga identificar.
Talvez Dilma lute contra a morte, contra o fim dos sonhos, contra o fim de si mesma, abrindo mão de ser Mulher para ser um Marco na história do Brasil.

Dilma Talvez se busque pelos cantos e procure seus pedaços, para constuir uma grande
Mulher, com novos objetivos, com novos rumos, sem medalhas e sem vitórias. Apenas uma Mulher!


Míriam Stolear
Psicóloga- CRP 4002/05

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